"PoLiTiCaMeNTe iNCoRReTa!!"

sexta-feira, 2 de maio de 2014

SauDaDe aSSiM




Saudade assim, dessas que não se mata e nem dela se morre, de tão bela. Dessas assim, que se alimenta com olhos fechados, peito aberto e punhos cerrados. Dessas que se consuma nos rostos sobrepostos, miragens de amor projetadas em andarilhos, universo amigo, transeuntes travestidos.
Saudade dessas assim, que se insurgem do solo, no meio da rua e recriam o cheiro quente do corpo, fagulha de insanidade que tempera o dissabor do não ter e de somente a ausência ter.
Saudade assim, tão grande que só dilata o peito, deixando ainda maior o vazio para o eco daquele que não mais se ouve a voz, para o reverbe da pele que não se toca mais, fina, suave, minha.
Saudade tão oca que o corpo quase reproduz o vapor da respiração perto, tão perto que não se precisava entender a fala, a palavra era o suspiro - entendido!
Saudade assim daquelas que se pudesse, não se sentiria, pois, dilacera em silêncio e se assenhora dos pensamentos, dos batimentos, das glândulas que fazem chorar e doer e moer.
Saudade daquelas que só não se sentiria se não tivesse havido, e o não ter havido é uma perda de vida, é desperdício de tempo, não tê-la havido é desatino, é a dor que não se sente por não saber-se em si, ser são, é o estado completamente afetado pela inércia da ilusão de não dor, de quem transita inócuo pelos caminhos de vida.
Saudade assim, dessas saudades costuradas de lonjuras, de avessos perfeitos, dessa lonjura que dá medo de esquecer as feições, os sorrisos, os sulcos ao redor do nariz. Saudade dessas assim, que com garras afiadas se aguilhoam à carne, relembrando numa nebulosa de dor e prazer, o perfeito estado do antes, daquilo que era ter-me em você.