Não perca seu tempo comigo!
Se você não quer laços e entrelaçados, não se enrosque em mim, nem
por um instante, conserve-se distante.
Não perca seu tempo comigo se a sua
conversa é de "- Ois, tudo bem?" em tons de protocolo e de respostas
retóricas, minha extensão é maior, esses tons pastéis não me colorem.
Não perca seu tempo comigo se você deseja
somente refrescar os pés nessas águas frescas e limpas, de boas intenções e
sorrisos sinceros, se você quer apenas descansar suas articulações enferrujadas
desse peso morto que carrega da vida, que não te deixa pegar impulso, que não
te deixa suspender. Sou de mergulhos, de afogamentos, de imersões, de arritmias
e desfibramentos.
Não perca seu tempo comigo. Teu cabelo
alinhado não se dá ao desfrute do vento, eu não me caibo em paredes pintadas,
em janelas fechadas e meus cabelos enamoram-se dos ventos que assanham, desequilibram
e que deixam toda a vida por um fio.
Não perca seu tempo comigo se você não
estiver disponível a calar-se nos meus silêncios polissílabos, que dizem quase
nada à letra fiel, mas que contam tudo por entre os espaços em branco, pintado
em lacunas estrategicamente espontâneas.
Não perca seu tempo comigo porque eu não
sei ser pouco, ser média, ser rasa. Para mim não existe nada menos que amar
demais, não sei apenas molhar artelhos, apertar as mãos, abraçar engessado. Sou
de intensidade absurdas e o nada me é bem melhor que o seu tão pouco.
Não perca seu tempo comigo porque me apraz
o beijo demorado, o encontro de peito com peito, e a demora um no outro até o
encontro do tempo perfeito, até o ajuste do bit, até a junção simétrica das
almas.
Não perca seu tempo comigo, o chão me
sumindo dos pés me deixa muito mais cheia de adrenalina e sorrisos que esses tapas
nas costas, que esses beijos nos ares, desperdiçados, afetividades formais.
Não perca seu tempo comigo se o que tens
nas mãos são metades, são sobras de alguém, são as sobras do tempo, das noites,
dos sóis, se são as sobras de ti, não me servem! Eu me dou em tempo integral e
em vida completa, se me dás as sobras de ti, não tens espaços para o manjar que
te sirvo de mim.
Não perca seu tempo comigo, a minha
imersão é profunda, o meu mergulho é de risco e de fôlego raro, caro! Não perca
seu precioso tempo comigo, porque o que eu desejo todo tempo é arrebatar cada
passarinho gente que pousa ao meu lado, que me encanta calado... Não perca meu
tempo consigo. Arrebatados são e sem fôlego ficam de fato, dobram de rir e
sorriem nos olhos, aqueles e somente aqueles que com coragem ficam, e se perdem
então, no tempo comigo, no tempo ido, no tempo imensurável de ser, de pertencer,
de se permitir, de viver de verdade, e para viver de verdade – coragem.