"PoLiTiCaMeNTe iNCoRReTa!!"

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Só PoR HoJe


Que prazer foi quando me dei conta que não há mais, aqui dentro, o desconforto de você. Incomodo algum há, onde antes o apertado se deitava. Acabou! Como um abstêmio que se lança no desafio de conseguir viver sem aquela presença toxica dia após dia, eu me lancei, e todos os dias eu dizia: Só por hoje! Só por hoje vou sobreviver, nem tanto por mim, mas por aqueles que me amam de verdade, por aqueles que se doem quando eu gemo. Só por hoje vou dormir sem seu corpo atrelado ao meu, nem tanto por mim, mas pela beleza da noite que jamais deixou de se revelar através de um Deus grandioso que me inunda de amor nos momentos de franco abandono. Só por hoje eu darei bom dia ao meu espelho, mesmo tentando disfarçar as olheiras da noite mal dormida, mesmo tentando ocultar dos queridos esse choro que dilacera o ser de dentro, afogando, engasgando, mutilando. Só por hoje eu sorrirei por fora, por aqueles que precisam do meu sorriso sincero, da minha afeição, da minha gargalhada. Só por hoje, independente do luto que veste a minha alma e dessas crises de alma e contrações descompassadas do coração, todos os dias, todas as noites,  - só por hoje. Só por hoje eu vou doer de saudades, vou ver o coração esparramado pelo chão do quarto, e vou catar novamente, caco após caco e colar e me refazer aos poucos, com coragem. Só por hoje eu vou chorar essa ausência surpresa, covarde e irresponsável, - só por hoje, eu dizia, - só por hoje! E em incontáveis dias eu disse: - Só por hoje!

Hoje, apalpando o passado, tão perto passado, degustando as distancias pelo canto da boca, lambendo a nostalgia na ponta dos dedos,  as músicas, as fotografias, percebi que você não estava mais lá, percebi, meio sem saber o que dizer, pra onde olhar, que não havia mais nada de você. Foi estranho. Estranho não sentir a presença toxica que me consumia por dentro de um modo tão ensurdecedor que eu já não mais podia escutar os risos do mundo, nem os meus próprios. - Entendo hoje as pessoas que se acostumam com a tristeza. Ela se torna uma companhia. Chata, nociva, mas uma companhia. - Foi muito estranho perceber que o que há em mim, hoje,  não traz mais nada de você, como se você jamais tivesse havido em mim. Hoje: prova material finita, não me diz nada, não me é nada por dentro, finito apenas.
E me senti bem. E me sinto bem hoje. Me sinto muito bem assim.


Texto escrito em 20 de março de 2014
Por causa desse novo sentimento, 
dessa nova visão da minha própria vida,
 muitas coisas mudaram, 
e o layout do blog, 
bem como coisas finitas, 
que não existem mais, passaram a inexistir aqui também.
Obrigada a quem esteve por aqui, me lendo, sempre.