Quem olha sou eu
mas não estou no reflexo.
Sou a sombra, a sobra
A sobra do tempo,
a sobra do afago.
Quem olha sou eu
mas não sou o pensamento
sou só um minuto de pausa
a pausa do olhar que se abre
depois de fechado, perdido aonde não me cabe.
Quem olha sou eu
e de tanto não me ver no reflexo
esmoreço e desisto, entristeço e compreendo.
Quem olha sou eu
mas no reflexo que era eu
Não é, é então o que te abate o rosto
Sua perda, desgosto.
Quem olha sou eu
e então eu vejo que não há como reverter aquilo que já é invertido na retina.
É seu caminho, penoso, eu penso, mas é seu caminho.
Quem olha sou eu
e quando se olha dentro de um olho
procura-se lá
E não há como se furtar da mazela
de não se enxergar no olho em que perdido se está.
Quem olha sou eu
mas é sempre igual
Outro reflexo
Outro anseio surreal.
Quem olha nos olhos, sou eu
e não me vejo
eu não me vejo.
